sábado, 22 de janeiro de 2011

Eugenio Montejo - La Poesia




La poesia

Eugenio Montejo

La poesía cruza la tierra sola,
apoya su voz en el dolor del mundo
y nada pide
ni siquiera palabras.

Llega de lejos y sin hora, nunca avisa;
tiene la llave de la puerta.
Al entrar siempre se detiene a mirarnos.
Después abre su mano y nos entrega
una flor o un guijarro, algo secreto,
pero tan intenso que el corazón palpita
demasiado veloz. Y despertamos.


Poesia

A poesia cruza a terra só,
apóia sua voz na dor do mundo
e nada pede
nem sequer palavras.

Vem de longe e sem hora, nunca avisa;
Tem a chave da porta.
Ao entrar sempre se detem a nos olhar.
Depois abre sua mão e nos entrega
uma flor ou uma pedra, algo secreto,
porém, tão intenso que o coração bate muito depressa. E despertamos.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Para você, mãe

Minha mãe, que há alguns dias partiu desta vida, deixando muitas saudades e lindas lembranças, não era só mãe - embora fosse mãe acima de tudo, a mãezona de todos. Ela era minha mãe, minha melhor amiga, minha conselheira e professora (não sei se passei nas aulas de culinária...), guia dos meus passos na vida. Ela era avó e em alguns momentos mais mãe do meu filho do que eu mesma. Muito, muito amada por todos ao seu redor; volta e meia reclamando de tudo, mas sempre seguidas as reclamações de sua doçura e cuidado.

Lembro que quando, por acaso vi esse filme (Bonequinha de Luxo) em uma loja , comentei quando cheguei em casa, pois sabia que ela gostava dele, mas não sabia se já tinha o filme. Na mesma hora ela ralhou: " Ai, Bia... Por que você não comprou?!!!", me deixando com a sensação de ter perdido a oportunidade de fechar o melhor negócio do mundo. Nos dias que se seguiram ela não sossegou enquanto eu não cheguei em casa com o filme em mãos. Comprei este e mais um, com a mesma atriz, Audrey Hepburn. Assistimos o Bonequinha de Luxo no mesmo dia. Uns tempos depois, ela disse " Bia, vamos assistir o filme?" Eu então - bobinha - coloquei no dvd o que ainda não tínhamos visto... Ela de  pronto reclamou: "Esse não! O da bonequinha de luxo!", como se eu tivesse me enganado por distração... E quando, na primeira cena, começava a tocar a música, ela sempre dizia, com ar sonhador: "Essa música é lindíssima..."

Com gratidão e muito amor,
Onde você estiver
Para você mãe, a sua música preferida.



Rio da Lua

Rio da Lua, mais largo do que uma milha
Eu atravessarei você com estilo algum dia
Oh, fabricante de sonhos, seu partidor de corações
Onde quer que você esteja indo, eu seguirei seu caminho
Dois errantes, fora para ver o mundo
Há tanto do mundo para se ver
Nós procuramos o mesmo fim do arco-iris
Esperando em volta da curva
Meu grande velho amigo
Rio da Lua e eu

(Instrumental - 1° verso)

Dois errantes, fora para ver o mundo
Há tanto do mundo para se ver
Nós procuramos o mesmo fim do arco-iris
Esperando em volta da curva
Meu grande velho amigo
Rio da Lua e eu

sábado, 23 de outubro de 2010

Os Passos Perdidos

O trecho a seguir é uma reflexão sobre o nosso tempo, belíssima passagem do texto Os Passos Perdidos, de Carpentier, que foi enviada pelo querido músico e professor de antropologia Guilherme Werlang a seu grupo de alunos no mestrado, tornou-se um dos meus textos preferidos e assim como ele o descreve em sua mensagem é também muito do que acredito.

"Como adquiri o hábito de andar ao ritmo da minha respiração, surpreendo-me ao descobrir que os homens que me rodeiam vão, vêm, cruzam-se, sobre o amplo passeio, com um ritmo alheio às suas vontades orgânicas. Se andam com um passo e não com outro, é porque a sua marcha corresponde à ideia fixa de chegar à esquina a tempo de apanhar a luz verde que lhes permite atravessar a avenida.
Por vezes, a multidão que surge aos magotes das bocas do metropolitano, de tantos em tantos minutos, com a constância de uma pulsação, parece quebrar o ritmo geral da rua com uma pressa ainda maior do que a reinante; mas depressa se restabelece o volume normal de agitação entre um semáforo e o outro. Como já não consigo adaptar-me às leis desse movimento coletivo, opto por caminhar muito lentamente, colado às vitrines, já que junto às casas comerciais existe algo assim como uma zona de indulgência para os velhos, os inválidos e os que não têm pressa. […]

No meu regresso encontro a cidade coberta de ruínas, mais ruínas do que as ruínas consideradas como tal. Por toda a parte vejo colunas enfermas e edifícios agonizantes, com os últimos entablamentos clássicos executados neste século, e os últimos acantos do Renascimento que acabam por extinguir-se em ordens abandonadas pela nova arquitetura, sem os substituir por novas ordens nem por um grande estilo. Um grandioso acontecimento do Palladio, um genial encrespamento do Borromini, perderam todo o significado em fachadas feitas em retalhos de culturas anteriores, que o cimento circundante depressa acabará por apagar.
Dos caminhos desse cimento saem, extenuados, homens e mulheres que venderam mais um dia da sua existência às empresas de alimentícios. Viveram mais um dia sem o viver e recobrarão forças para amanhã viverem um dia que também não será vivido, a menos que se refugiem, — como eu dantes fazia, a esta hora — no estrépido das danças e no atordoamento do álcool, para se encontrarem ainda mais desamparados, mais tristes, mais cansados, durante o próximo Sol. […]

Estas reflexões levavam-me a pensar que a selva, com os seus homens audazes, com os seus encontros fortuitos, com o seu tempo ainda não transcorrido, me ensinara muito mais, no respeitante às próprias essências da minha arte, ao sentido profundo de certos textos, à grandeza ignorada de certos rumos, do que a leitura de tantos livros que jazem já mortos para sempre na minha biblioteca.

Em frente ao /Adelantado/ compreendi que a obra máxima proposta ao ser humano é a de forjar um destino para si próprio.
Porque aqui, entre a multidão que me rodeia e corre, ora insolente ora submissa, vejo muitas caras e poucos destinos. Acontece que, por detrás dessas caras, qualquer apetência profunda, qualquer rebeldia, qualquer impulso, é sempre inibido pelo medo. Têm medo da reprimenda, medo do tempo, medo da notícia, medo da coletividade que pluraliza as servidões; têm medo do próprio corpo, perante as interpelações e os índices tensos da publicidade; têm medo do ventre que recebe a semente, medo dos frutos e da água; medo das datas, medo das leis, medo das ordens, medo do erro, medo do envelope fechado, medo do que possa acontecer.
Esta rua devolveu-me ao mundo do Apocalipse, em que todos parecem esperar a abertura do Sexto Selo — o momento em que a Lua se torna da cor do sangue, as estrelas caem como figos e as ilhas se deslocam dos seus lugares. Tudo o anuncia; as capas das publicações expostas nas vitrines, os títulos apregoados, as letras inscritas nas cornijas, as frases lançadas ao vento. É como se o tempo deste labirinto e de outros labirintos semelhantes já estivesse pesado, contado, dividido.
E ocorreu-me, neste momento, como um alívio, a recordação da taberna de Puerto Anunciación onde a selva veio ao meu encontro na pessoa do /Adelantado/. Parece voltar-me à boca o sabor da forte aguardente de avelã com o seu limão e o seu sal, e parece que se pintam, atrás de mim, as letras com ornamentos de sombras e de grinaldas que compunham o nome do lugar: /Los Recuerdos del Porvenir/.

Vivo aqui esta noite, de passagem, apercebo me do porvir — do vasto país das utopias permitidas, dos possíveis Ícaros. Porque a minha viagem baralhou-me as noções de pretérito, presente e futuro. Não pode ser presente aquilo que será passado antes de o homem ter podido vivê-lo e contemplá-lo; não pode ser presente esta fria geometria sem estilo onde tudo se cansa e envelhece poucas horas depois de ter nascido. Já só acredito no presente do intato; no futuro do que se acredita perante as luminárias do Génese. Já não aceito condição de Homem Vespa, de Homem Ninguém, nem admito que o ritmo da minha existência seja marcado pelo porrete de um capataz."

domingo, 10 de outubro de 2010

Depois dos Sete Ramos e dos Sete Bardos...

Senhoras e senhores... sejam bem vindos aos Sete Véus, onde vou tentar escrever ( nem tanto quanto os Sete Ramos e nem tão pouco como os Sete Bardos...)

Como primeiro post escolhi um poema muito fofo da Cecília Meirelles sobre... bailarinas!!! Gosto tanto dele que usei dois versos para compor com esta foto. :)

A bailarina

Esta menina
tão pequenina
quer ser bailarina.
Não conhece nem dó nem ré,
mas sabe ficar na ponta do pé.
Não conhece nem mi nem fá,
mas inclina o corpo para cá e para lá.
Não conhece nem lá nem si,
mas fecha os olhos e sorri.
Roda, roda, com os bracinhos no ar
e não fica tonta nem sai do lugar.
Põe na cabeça uma estrela e um véu
e diz que caíu do céu.
Esta menina
tão pequenina
quer ser bailarina.
Mas depois esquece todas as danças
e também quer dormir como as outras crianças.

Cecília Meireles

(1901-1964)